quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ultimate Mendigo Championship

14:00 horas. Chego no bar. Peço uma cerveja e fico a esperar meu amigo Sergio Augusto. Entre um gole e outro escuto as conversas de outras mesas, vejo um mendigo pedindo ''moeda pra uma cachacinha'' para todos que passam na rua. Tem sol e parece que será um bom dia.
Sergio chega e começamos a conversar sobre a vida, sobre trabalho, mulheres, filmes, política na Rússia e tudo mais. As horas voam e a noite chega. Vemos umas turistas francesas no Hostel do lado do bar e admiramos a paisagem estrangeira. Um pouco depois, Sergio, astuto e atento como sempre (e um pouco alegre) focaliza sua atenção em uma francesa acompanhada de um cara, e fala: ''vamos lá falar com ela?'' Falo pra ele se sentir à vontade e ele vai. Eu fico acompanhando de longe, rindo. Percebo que o cara ficou bravinho porque, segundo ele, ''chegou antes''. Sergio é um cara pacífico e nunca começaria uma briga, o que não se pode dizer da maioria dos caras por aí. Vejo que o Sergio tenta dar um tapinha nas costas do meninão, e esse recua, putinho da cara. Fico esperto, porque se ele encostasse no Sergio eu chegaria soltando golpes mortais (na minha imaginação, pelo menos). Mas nada acontece e o casalzinho se retira. Sergio volta dando risadinha. O tempo voa novamente. Tomamos uma dose de conhaque, mais uma cerveja e vamos embora.
No caminho para o terminal onde Sergio pega o ônibus, andando meio cambaleantes, ele tem a brilhante idéia de, no alto de seus 41 anos, dizer que ganha de mim numa corrida até a esquina. Corremos, ele perde, eu tiro sarro enquanto ele respira pesado (eu também, diga-se). Vamos andando até o terminal, damos uma mijadinha na rua, porque somos foras-da-lei.
Ao chegar no terminal, Servejão, com fome, vai comprar Ruffles. O cara diz que não tem mais salgadinho de pacote e comemos outra coisa. Vamos para o lugar onde ele pega o ônibus e esperamos. Surge então uma mulher, quase um esqueleto de tão magra. Nessa mesma hora aparece um mendigo e fala que foi campeão de Boxe (e eu lembrei daquele filme em que o Samuel L. Jackson é um mendigo que já foi campeão de Boxe). 

No momento fez sentido e eu comecei a lutar com ele. O puto dava soquinho forte, cheio de graça. Ia falar com o amigo e voltava treinar mais. Em um desses intervalos, escuto Servejão falando pra mulher que ele não tem dinheiro, mas que se ela quisesse, ele daria um abraço. E eles se abraçam. Nada de putaria, só um abraço sincero. Nesse instante o Mendigo Tyson volta, querendo mais. Deixo ele dar uns socos no meu braço e dou um tapinha na cabeça dele. Ficou puto e veio pra cima de mim. Desviei uns golpes e dei bronca nele, falando que não pode agir assim com os amigos. Ele elogiou minha jaqueta e pediu uma igual. Falei que não queria mais ser amigo dele e ele voltou pra onde tava antes. A amiga do Servejão também some.  E ele fala, com um ar profundo, que ela só queria um abraço, assim como meu amigo também queria ,no caso, um clinch. Enfim, queriam um pouco de atenção. Assim que ele acaba de falar isso, emenda com: ''tô com fome, vou comprar salgadinho''. Eu falo que o cara disse que não tinha mais, e escuto um: ''não tem como, cara, sério''. Teimoso, deixo ele ir até lá. Ele volta com um pacote de bolacha vagabunda: ''não tinha mais mesmo''.
Nesse momento, ele percebe que estamos ali há mais ou menos uma hora, e que o ônibus não chegou. O esperto então me fala que na última vez também aconteceu isso, e eu reclamo que ele devia ter lembrado disso antes. Um baixinho banguela de terno sujo interrompe nossa convera e fala que me viu brigando com o outro mendigo e que ele sabe boxe tailandês, porque já foi para Hong Kong. Fala também que numa conversa com Barack Obama, ele pediu pro Obama parar de espionar o Brasil, e que já foi agente secreto. Obviamente demos corda pra ele, e nos divertimos muito ouvindo sobre ele ter viajado pra Hong Kong, ter conhecido Bruce Lee, Barack Obama e o 007. Aí meu lado malvado entrou em ação e eu perguntei se ele estava usando escutas, se estava nos espionando. Ele diz que não, e eu, bravo, falo: ''deixa eu ver, tira o paletó''. Ele tira, e ergue a camisa. No meio do terminal, eu falo: ''abaixa a calça, tem que me provar que tá sem escutas.'' E ele abaixa a calça, mostrando o calção de esportista que estava usando. Servejão entra na onda e fala que sou da Polícia Federal, e eu pergunto se ele quer ser preso. Esperto, ele diz que não, e eu falo pra ele sumir dali. Ele some e não o vimos mais. Confesso que hoje eu lembro disso e dou um pouco de risada, mas também sinto um pouco de remorso (embora dê mais risada). 
Ficamos rindo lá, como dois imbecis, e decidimos que é hora de ir embora com a certeza de que teremos ótimas recordações. 

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