Ela me encontrava no ônibus, tirava um fone do meu ouvido e ficava ouvindo o que eu estava ouvindo na hora, geralmente falando que não imaginava que eu ouvisse aquele tipo de música. Eu a encontrava na escola e ela falava rápido: ''oi teacher, tá tudo bem? ah, eu consegui ir bem na escola'' ou algo do tipo.
Durante os quase 7 anos em que dei aula, alguns alunos acabaram fazendo mais parte da minha vida do que outros. A Duda não fazia parte da minha vida fora da escola, e até mesmo lá dentro eu quase nunca a via. O que não diminuiu em nada o sentimento desanimador da manhã de domingo, quando fiquei sabendo o que tinha acontecido. Não diminuiu em nada a sensação de desperdício.
A Duda decidiu que agora era a hora de parar. Que não dava mais. Os motivos eu não sei, porquê como falei, não a conhecia direito. O que eu conheci nesse domingo foi o sentimento de que o mundo agora tem um futuro a menos. Uma menina que viveu pouco e quis parar. Pra gente, de fora, ela ainda teria vários anos pela frente, e provavelmente se daria bem, porquê era bem mais inteligente do que achava que era. Agora, vendo a página do Facebook dela, com amigos falando que a amavam, que vão sentir falta dela, eu, que não acredito em céu, inferno ou coisas do tipo, continuo crendo ainda mais que o que importa é a vida aqui. E que, depois que a gente para de existir, nossos amigos vão sentir nossa falta e continuar nos amando. Do mesmo jeito que os amigos da Duda a amam.
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